Projeto do Pacto Pelotas pela Paz representa oportunidade de trabalho a apenados do regime fechado e incentiva a ressocialização; vice-governador do Estado, Ranolfo Vieira Jr.,acompanhou a cerimônia
30-05-2019 | 19:33:27
Um passo importante em direção à oportunidade de trabalho e à ressocialização de apenados do município foi dado nesta quinta-feira (30), quando a Prefeitura inaugurou a Fábrica de Artefatos de Concreto – Artecon P, no Presídio Regional de Pelotas (PRP). O projeto do Pacto Pelotas pela Paz, em parceria com a Susepe e a UCPel, representa uma ocupação profissional para presos do regime fechado, que ergueram a estrutura depois de produzirem mais de 5 mil blocos de concreto.
O início oficial do trabalho foi acompanhado pela prefeita Paula Mascarenhas, pelo vice-governador do Estado, Ranolfo Vieira Júnior, dezenas de lideranças regionais e autoridades policiais, jurídicas e civis. A concepção do Pacto vislumbrando uma cidade mais pacífica, acolhedora e generosa foi lembrada pela pela prefeita, que reforçou a repercussão da segurança em áreas prioritárias como saúde, educação e geração de emprego.
“Este projeto simboliza um farol para a grande transformação que sonhamos: fincar no nosso território a bandeira da paz. A Artecon P é exemplo de que é possível fazer a diferença, mudar vidas e lutar por uma sociedade melhor. Essas pessoas têm direito a uma segunda chance, e o que nós estamos fazendo é abrir portas para que elas sejam acolhidas e possam recomeçar”, assinalou Paula.
A chefe do executivo destacou ainda a integração de secretarias municipais, Susepe, Poder Judiciário, empresas e voluntários, e mencionou o engajamento em prol da reinserção social iniciado na gestão do governador Eduardo Leite, enquanto prefeito de Pelotas. “Não há nada mais poderoso e revolucionário do que esta esperança coletiva. Juntos somos ainda mais fortes”, defendeu a prefeita.
Vice do Estado e secretário da Segurança Pública do RS, Ranolfo Vieira Junior disse que levará a prática de Pelotas como exemplo para o governo estadual, especialmente no projeto RS Seguro. “Algumas pessoas têm a percepção equivocada sobre o sistema prisional, acreditando que o preso precisa sofrer e ficar amontoado na cadeia. Só que a sociedade esquece que estas pessoas um dia vão regressar e, dependendo da forma como forem tratadas, voltarão piores do que quando entraram”, salientou.
Atualmente, 41 mil pessoas formam a massa carcerária do Rio Grande do Sul, quando a capacidade é de 28 mil, lembrou o vice-governador. “Precisamos abrir novas vagas, mas estas precisam ter qualidade, para que os apenados retornem à sociedade com vontade de trabalhar e mudar”, justificou.
A nova estrutura no PRP vai produzir, além de blocos de concreto – cerca de 200 são feitos por dia –, tubos e blocos intertravados. Os materiais serão utilizados em obras da cidade, reformas no presídio e na construção do Centro de Reintegração Social vinculado à Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac). O local será um dos primeiros do Rio Grande do Sul a implementar o modelo prisional alternativo, que prevê índices de até 90% de reinserção social.
Uniformizados e instrumentalizados com equipamentos de segurança, os sete apenados que trabalham na fábrica foram reconhecidos com certidões de honra entregues por Paula. Líder do grupo, Jaques da Silva falou, emocionado, que a fábrica representa um divisor de águas na vida de cada um deles.
“É uma grande mudança. Saber que existem pessoas que lutam por nós e acreditam no nosso potencial nos dá esperança para mostrar nossa capacidade, sair daqui, estudar e trabalhar. Com esta chance que nos deram construímos tudo que vocês veem aqui, e queremos seguir ajudando”, disse o apenado, que foi responsável por recuperar a maioria das máquinas da Artecon P, o que viabilizou o projeto com menos custos.
De segunda a sexta, a equipe trabalhará das 8h às 17h. A oportunidade de ocupar a cabeça com as atividades laborais permite que novos sonhos cheguem. É o que afirma Jaques, que compartilhou com os presentes o desejo de fazer faculdade e seguir colaborando com o projeto. “Isso justifica a atividade pública e um mandato; mais do que isso, justifica uma vida”, ressaltou a prefeita.
Na ocasião, a prefeita e o reitor da Universidade Católica de Pelotas, José Carlos Bachettini Júnior, assinaram um termo de cooperação que garante aprimorar a técnica da mão de obra dos apenados, qualificando os artigos de concretos originados na fábrica. A UCPel é parceira da iniciativa, realizando testes de resistência e estudos de traço dos materiais.
Juiz da Vara de Execuções Criminais Regional da Comarca de Pelotas, Marcelo Malizia Cabral, destacou a população carcerária atual em Pelotas para dimensionar a importância do Poder Público agir em busca de uma nova realidade. “São 1.100 pessoas encarceradas aqui. Nosso papel é encontrar formas destes seres humanos tornarem-se pessoas melhores. Vamos conseguir isso, justamente, construindo pavilhões de trabalho, e não somente celas”, argumentou o também diretor do Foro.
O superintendente dos Serviços Penitenciários do Estado, Mario Santa Maria Júnior, considerou Pelotas um exemplo para outras cidades. “O grande objetivo da Susepe vemos concretizado neste município, que é buscar reabilitar pessoas em cumprimento de pena e incentivar que saiam especializadas na mão de obra do trabalho”, apontou. Titular da 5ª Delegacia Penitenciária Regional, Mateus dos Anjos garantiu o desejo do órgão de expandir a iniciativa para outros estabelecimentos prisionais da região.
O secretário interino de Saúde e idealizador do Mão de Obra Prisional (MOP) em Pelotas, Leandro Thurow, foi homenageado pela prefeita com placa de reconhecimento, assim como Olavo Rocha, empresário que doou uma das máquinas fundamentais para a fábrica; Júlio Moura e Carlos Campos, pela dedicação à iniciativa; e Hamilton Martins, antigo coordenador do MOP no PRP. A cerimônia de inauguração da Artecon P contou ainda com a apresentação de jovens da Orquestra do Areal e a presença de secretários e vereadores municipais, prefeitos da zona sul e imprensa.