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Mulheres da pandemia: um exército feminino luta contra o coronavírus

Conheça as mulheres que representam a maioria dos profissionais responsáveis por salvar vidas em Pelotas

08-03-2021 | 09:48:11

O que tem aproximado as mulheres ao longo dos anos, além do fato de serem do gênero capaz de renovar a vida? A presença cada vez mais massiva em vários setores da sociedade talvez seja o ponto de união entre elas no século XXI. A confirmação veio no ano em que o mundo foi assolado pela pandemia do coronavírus. A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula em 70% o percentual de mulheres presentes no total de profissionais que atuam na linha de frente no controle e prevenção à pandemia, no mundo.  

Na cidade em que elas são a maioria dos moradores, quase 175 mil, conforme o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, também estão presentes em todas as funções essenciais, sendo o maior contingente na saúde - só na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) são 1.157 trabalhadoras, 74,42% do total. Por consequência são as mais expostas ao vírus - 56% dos casos positivos, no município, são mulheres de várias profissões e idades, como aponta o Observatório de Segurança Pública.

Pelotas é uma cidade feminina, do título de "Princesa do Sul" ao governo municipal. Do comando do Município, passando pela chefia de gabinete, secretarias, direção de setores, departamentos e escolas, a Prefeitura abriu espaço para aquelas que antes ocupavam apenas funções preconcebidas às mulheres. A primeira mulher chefe do Executivo está rodeada por elas - dos 8.327 funcionários da administração direta, 78,8% são mulheres. Aos 51 anos, prefeita, professora, Paula Mascarenhas vive desafios diários baseados em uma meta: salvar vidas. Ela é uma das integrantes da linha de frente da pandemia, a que toma as decisões, faz cumprir os decretos, anuncia as boas e más notícias, recebe críticas e elogios, orienta e acalma a população. Uma mulher, surpreendida pela crise sanitária, que, como muitas, teve a vida transformada pela pandemia. 

Paula Mascarenhas, 51 anos, prefeita de Pelotas

"A pandemia teve um impacto brutal sobre a sociedade como um todo. Momentos diferentes de medo, de revolta, de indignação, de incerteza, de dúvida, de angústia, de preocupação. Tudo isso foi se colocando para as pessoas, durante o ano de 2020 e até agora, nesse enfrentamento a um vírus desconhecido que alterou as nossas vidas, as nossas práticas diárias, que alterou a nossa vida em sociedade, nos exigiu mudanças de comportamento, enfim, uma mudança cultural no sentido mais profundo. Certamente esse momento vai ficar marcado na vida de cada pessoa e na vida das mulheres, especialmente as que são chefes de seus lares, donas de casa e que precisam ser o porto seguro, o pilar das suas famílias, e tiveram que enfrentar tudo isso sem as respostas necessárias. Não tenho dúvida de que nós venceremos a pandemia, sairemos mais fortalecidos, como sociedade, mas certamente, cada mulher que passou por esse momento, cada mulher no mundo que enfrentou todas essas dificuldades, também vai se fortalecer, vai sair disso com outras perspectivas, com outras capacidades desenvolvidas durante esse enfrentamento. Sairemos, com certeza, mulheres mais fortes para atuar em uma sociedade, também, mais forte, mais generosa e mais solidária".

Outras "guerreiras" da linha de frente

Para homenagear esse exército feminino e saber como a pandemia tem agido na vida das mulheres de Pelotas, a partir de hoje você confere depoimentos de profissionais e trabalhadoras da saúde, da segurança pública e de serviços essenciais. Elas contam o que mudou nas suas vidas, como a pandemia fez conquistarem espaços, e ao mesmo tempo, enfrentarem desafios, como têm se tornado, todos os dias, ainda mais fortes.

Danise Senna, 43 anos, médica infectologista do Hospital Escola da UFPel (HE-UFPel), coordenadora da pesquisa CoronaVac

"Houve meses em que não existia horário para começar nem terminar o dia, isso mudou bastante a minha rotina. Acho que todo mundo se transformou durante a pandemia, eu me transformei e foi um processo de amadurecimento profissional muito importante, muito desafiador, mas muito enriquecedor também. Eu sou grata por ter podido viver essa experiência. As mulheres estão à frente de várias coisas, eu estive como investigadora principal da CoronaVac no Centro de Pesquisa Clínica de Pelotas. Foi um time, majoritariamente, feito por mulheres em relação aos subinvestigadores. Os médicos que compuseram a pesquisa, eram também, em maioria, mulheres, e o mais incrível é que grande parte dos voluntários da CoronaVac, não só do Centro de Pesquisas de Pelotas, mas de todos os 16 centros, também foram mulheres. Então eu acho que a mulherada está de parabéns e desejo que possamos ter o mesmo reconhecimento dos homens pelo excelente trabalho que fazemos. Ainda precisamos alcançar isso".

Camem Rosane Viegas, 47 anos, enfermeira, coordenadora do Núcleo Materno Infantil da Secretaria Municipal de Saúde (SMS)

" Eu passei um período de 2020 dentro da Vigilância Epidemiológica e houve uma mudança não só no ambiente de trabalho, na priorização das condutas, mas também na nossa família. É preciso conciliar todas as atividades desenvolvidas como profissional de saúde com os desafios que a família tem que enfrentar junto conosco. A pandemia fez nos reinventarmos enquanto profissional, mãe, filha, esposa. Ela me fez repensar o quanto dependemos do outro, o quanto não estamos sozinhos e o quanto precisamos do outro para, na verdade, viver neste contexto. Mesmo tendo uma importância significativa na pandemia, no trabalho das mulheres, ainda há uma desigualdade de gênero. Temos que nos atentarmos para isso, para que a mulher realmente possa ser vista como importante no contexto da pandemia, que a mulher possa ser vista como quem está à frente e quem tem feito uma diferença significativa. Que a mulher possa ser olhada com mais respeito, com mais dignidade, e realmente sem essa desigualdade, sem esse preconceito que, infelizmente, ainda persiste". 

Caroline Vargas Soares, 24 anos, copeira no Centro Covid

"Sou copeira e vejo uma luta diária, tanto dos pacientes quanto dos profissionais da saúde. Vejo a fragilidade do paciente em chegar e ficar sozinho sem a família, assustado pois não sabe bem o que está acontecendo ou o que pode acontecer. E vejo o profissional sempre buscando um melhor conforto para aquele momento. Têm dias que é bem triste. Cada alta e cada melhora dá um pouco de paz no coração. Medo não tenho, pelo fato de estar sempre bem equipada, sempre tomando todos os cuidados possíveis. Eu e minhas colegas somos bem essenciais. Me sinto mais forte por ter disposição para trabalhar no Centro Covid, para ajudar o próximo. Desejo para as mulheres segurança, que hoje em dia anda bem difícil, força para conseguirem sair e lutar por si e pelos seus. É bem difícil ser mulher e todas merecem a melhor vida possível!"

Raquel Zorzolli Nebel Moraes, 38 anos, assistente social da Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS)

" Me sinto a Mulher Maravilha (risos). Ser assistente social, mulher e estar na linha de frente da pandemia, ao mesmo tempo que é um desafio é um presente, um presente para poder fazer a diferença no mundo. A pandemia traz medo, insegurança e incerteza, porém, ao exercer a profissão, passamos a deixar de lado esses medos que nos cercam. As pessoas estão carentes de atenção. São diversas as demandas e elas precisam muito de um profissional que possa escutar como a vida está difícil, como está difícil estar com os filhos em casa, com o marido desempregado, com a falta de trabalho. A pandemia deixou as mulheres mais fortes, lutando por sua família, por seus filhos. Se não acessam seus direitos elas ligam, brigam, denunciam, correm. Porém, muitas mulheres da periferia não possuem voz ainda. Por isso desejo à todas acesso aos direitos básicos, dignidade, que sejam o porto seguro dos seus filhos e "donas de si".

Ângela Roberta Alves lima, 45 anos, enfermeira, coordenadora do setor de contratos da Secretaria Municipal de Saúde e da Central de Teleconsulta

"Na pandemia fiquei muito focada, tudo que não se refere ao Covid, considero supérfluo. A Central de Teleconsulta foi algo muito gratificante, uma oportunidade onde pude aplicar os conhecimentos adquiridos no doutorado. Meu desejo é continuar com a Tele, após a pandemia. Ser mulher, nesse momento, faz a diferença. Com esse acúmulo de trabalho nossas habilidades de fazer muitas coisas, de organizar e encontrar os processos, no caso do setor de contratos, ajudam bastante. Mas escancara uma questão muito desigual - nós temos dupla e até tripla carga de trabalho. A casa, os filhos, ainda são uma atribuição da mulher, mesmo nós mulheres que nos qualificamos, trabalhamos fora, não conseguimos nos libertar dessa carga. Considero que conquistamos muitas coisas, mas precisamos ampliar o acesso: formação universitária, se a mulher desejar, carreira, fazer o que gosta, se encontrar. Não precisa ser algo engessado. Cada uma tem sua forma de ser que deve ser respeitada".

Maria Rosane Silva Fernandes, 40 anos, técnica de enfermagem do Hospital Escola da UFPel e do Hospital Universitário São Francisco de Paula

"Fico pensando o que esse vírus tem que aparece do nada e muda o quadro do paciente. Quando chegam acordados, ainda estão ventilando (respirando) "sozinhos", com suporte de máscara. Mas, o quadro agrava muito rápido. Aí já sabemos que vai começar mais uma luta. Uma corrida pra salvar mais uma vida. É muito intenso. A pandemia me ensinou a descobrir que tenho força pra enfrentar, mesmo quando digo que "não aguento mais", encaro de frente minhas emoções. Nosso trabalho é lindo. Somos os olhos dos médicos. Me sinto essencial, sim. Nesse momento está tudo igual. Unimos nossas forças. Não tem homem, não tem mulher. Tem equipe. Apesar de sermos a maioria, vejo as mulheres tomando conta do seu espaço. Sendo independentes. E isso está assustando os homens, porque tomamos decisões. A mulher está mostrando que é guerreira, trabalha fora, cuida de casa , filhos, paga contas, sem a necessidade do sexo masculino".

Ana Rita Tereza Lima da Silva, 56 anos, higienizadora no Centro Covid

"A pandemia mudou a minha rotina na função do afastamento das pessoas que amamos, dos amigos, de alguns parentes que não podemos estar próximos. Me sinto honrada de poder, de uma certa forma, mesmo trabalhando na higienização, fazer parte dessa equipe, sendo profissional da limpeza. Me sinto agradecida por ter sido escolhida para ser responsável pela minha equipe. Mas eu acho que assim como eu, qualquer um dos meus colegas também seria capaz de ser responsável, desde que cumpramos com as tarefas. Dentro da medida do possível, procurando sempre fazer o melhor para a nossa saúde e para a saúde do próximo. Que todas as mulheres sejam cada vez mais respeitadas e reconhecidas".

Carla Regina Soares, 49 anos, psicóloga do Hospital Beneficência Portuguesa

"Nesse momento de pandemia, tanto a minha vida pessoal, quanto o meu trabalho, só aprimoraram. Faço com muito gosto, me doo muito, faço de coração. Os cuidados aumentaram, em nenhum momento eu entrei em desespero, em nenhum momento eu senti medo. O paciente quando faz o exame e dá positivo, ele apresenta medo, angústia, pavor e quando ele entra para dentro da ala de isolamento, seja da UTI ou seja da ala clínica de isolamento, ele fica sozinho no quarto e isso gera uma angústia muito grande, uma confusão mental. Os familiares também, do lado de fora, ficam muito angustiados. Ser mulher, nessa hora, faz a diferença, somos mais carinhosas, mais atenciosas, temos uma sensibilidade, todo um jeito especial de ser ao lidar com situações mais difíceis na vida das pessoas e na nossa mesma. Infelizmente ainda existe preconceito, pouco, mas existe. Às vezes nem são palavras, às vezes é o gesto e o olhar de algumas pessoas com relação às mulheres. Que possamos ser mais unidas, nos destacar, como já estamos nos destacando, nos nossos trabalhos, nas nossas vidas, nas nossas colocações, nas posições que ocupamos dentro da sociedade".

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