Rede multidisciplinar envolve as secretarias de Educação e Desporto, Saúde e Assistência Social no projeto do Pacto Pelotas pela Paz voltado a jovens em vulnerabilidade
25-07-2019 | 16:23:47
O Cada Jovem Conta é um dos mais antigos projetos de prevenção à violência do Pacto Pelotas pela Paz. Implementado há quase dois anos, o trabalho em rede desenvolvido por Educação, Saúde e Assistência Social pode parecer invisível para quem vê de fora, mas realiza verdadeiras transformações na vida de 204 crianças e adolescentes acompanhados pelos profissionais da Prefeitura.
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Dividido em dez Comitês Territoriais e voltado aos estudantes com tendência a evadir da sala de aula e ligados a situações de risco para a violência, o projeto vai além e abrange também as famílias: pais, irmãos, tios, avós... comunidade escolar. Tudo isso sem que ninguém saiba que é acompanhado pela rede multissetorial.
Dois indicadores principais apontam para a eficácia do trabalho desenvolvido pelo Cada Jovem Conta. Do total de acompanhados, 73% apresentaram aumento na frequência escolar, estando mais assíduos na sala de aula; e 90% tiveram melhora na conduta, muitas vezes deixando de serem considerados os “alunos problema” nas respectivas escolas durante o primeiro semestre deste ano. Desde setembro de 2017, 81 jovens puderam ser desligados do projeto, por superação dos fatores de risco para a violência ou transferência escolar - neste caso, permanece o vínculo com algum serviço da rede.
Os profissionais são unânimes na avaliação positiva e maior interação entre os serviços. Essa movimentação integrada tem, inclusive, incentivado as comunidades escolares que, com ajuda de voluntários, fazem dos educandários pontos de encontro, troca de experiências e capacitação fora dos horários de aula.
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No Getúlio Vargas - Comitê Territorial 3 -, o “Projeto Acompanhar” toma conta da Escola Municipal de Ensino Fundamental Mário Meneghetti nas tardes de sábado. Oficinas incentivam a cultura de paz e, com as atividades diferenciadas, buscam aumentar a frequência dos estudantes. Dança gauchesca, teatro, Vida Ativa, Muay Thai e reforço escolar são algumas das ações realizadas na parceria com o voluntariado e um grupo de mães.
Alunos que manifestam comportamentos agressivos ou de indisciplina são encaminhados às oficinas pela direção da escola, que articula as ações no bairro, explica a orientadora educacional Lidiane Monteiro. Tudo é feito para resgatar os estudantes e oferecer uma nova visão de mundo.
“Não consigo mais ver a possibilidade de trabalhar sem o contato com a UBS, que é fundamental, e a assistente. O trabalho é grande e sem empenho não se faz”, analisa Lidiane.
Esse engajamento não é exclusivo do Getúlio Vargas. No Laranjal – Comitê Territorial 8 – surgiu o “Papo Massa”, com o objetivo de criar a sensação de pertencimento nos educandários e combater a evasão, resgatando o interesse dos alunos pelo aprendizado. E no Sítio Floresta – Comitê Territorial 10 – há o “Projeto Aluno Solidário”, voltado a jovens de outros pontos da cidade que se mudaram para o bairro. Lá eles contam com a assistência de um estudante “veterano”, responsável por dar suporte na adaptação.
“É um mutirão de colaboração. O Cada Jovem Conta mudou o jeito de pensar o território, e essa mudança foi positiva na rede. UBS, escola e Cras são uma coisa só, se complementando nas necessidades de trabalho”, conta a professora Jussara Horta.
A enfermeira Ângela Affeldt classifica o Cada Jovem Conta como uma “sociedade secreta”. Para ela é uma corrente do bem, que as pessoas não sabem que existe, mas que sentem as melhorias no dia a dia ao longo do tempo. A opinião é compartilhada pela assistente social Franciele Rodrigues, que vê nesse fortalecimento de vínculos e troca de ideias oportunidade para o crescimento.
Os comitês são áreas de atendimento integrado que mobilizam esforços conjuntos de escolas, Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Redução de Danos e serviços de Centros de Referência de Assistência Social (Cras) da região para identificar os alunos e encontrar em seu dia a dia as situações que reflitam em comportamentos de risco. Os casos, individualmente, são discutidos pelo grupo multidisciplinar que determina os encaminhamentos necessários para ajudar o estudante a se distanciar de situações de conflito.
Os jovens alinhados com fatores de risco de violência, infrequentes ou envolvidos em situações de conflito, são identificados dentro das escolas. A partir da aproximação com orientadores educacionais, a demanda é levada para a rede de proteção do Comitê Territorial, que aciona os atendimentos médicos, psicológicos e de assistência social para acolher o aluno. A oferta de atividades saudáveis pelo Banco de Oportunidades é outro diferencial, pois facilita a inserção do estudante em oficinas, cursos profissionalizantes e vagas de trabalho no Jovem Aprendiz.
Também há o reforço na atenção diferenciada às famílias dos alunos acolhidos. Este tipo de apoio é intensificado e estimulado, a fim de auxiliar também os irmãos e outros familiares que precisarem de algum tipo de ajuda, pois os profissionais de cada setor conhecem diferentes aspectos do núcleo familiar e podem contribuir uns com os outros para a melhora do quadro geral.
Ao todo, 25 escolas das redes municipal e estadual de ensino contam com a cobertura, além de 15 UBSs, quatro Cras, um Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) e uma equipe volante.
A escolha dos territórios tem origem nas localidades com maior incidência de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) – homicídio, latrocínio, feminicídio, infanticídio - georreferenciados pelo Observatório Municipal de Segurança Pública, através de estudo de áreas quentes. A divisão da cobertura em comitês concentra-se na proteção dos estudantes de regiões de extrema vulnerabilidade e violência ao envolvê-los nos serviços municipais com o intuito de mostrar um horizonte mais favorável de vida.