Há dois anos, projetos de prevenção à violência geram emprego e renda, transformando as vidas de centenas de pelotenses
14-08-2019 | 13:08:44
Mais do que um olhar diferenciado sobre a segurança pública — apenas em 2019 diminuíram em 35% os crimes letais na cidade —, o Pacto Pelotas pela Paz transforma vidas. As mais de 30 ações desenvolvidas por servidores municipais impactam o dia a dia de milhares de pessoas. Algumas delas, com o apoio da iniciativa privada, criaram mais de 1,4 mil oportunidades de emprego e geração de renda para moradores do município.
Entre os projetos estão o Mão de Obra Prisional, voltado a apenados e egressos do sistema carcerário, e o Banco de Oportunidades, com foco nos jovens com idades entre 14 e 24 anos. Essas atividades, além da qualificação, têm como objetivo a prevenção da violência, ao abrir novos caminhos.
Dentro do Pacto, a juventude tem uma série de possibilidades para desenvolver seus talentos. No Banco de Oportunidades – parceria do Município com empresários e instituições de ensino –, mais de 1.100 vagas em cursos profissionalizantes, empregos e oficinas de esporte e cultura foram captadas. Entre as iniciativas, que dão chance aos adolescentes para crescer e conquistar seus objetivos, está o Espaço de Referência para a Juventude, que funciona no Navegantes e oferece atividades profissionalizantes, e o Projeto Start, que abre portas no mercado de trabalho.
As três turmas do Start somam 230 formados, e 31 já atuam como Jovem Aprendiz nas empresas parceiras do Pacto. No total, 60 jovens conseguiram sua primeira chance por meio da articulação entre Poder Público e empresas feita pelo Banco. Um deles é Keven Souza, morador do Fragata, que aos 16 anos trabalha como estoquista em uma loja de departamento.
Há oito meses em seu primeiro emprego, o estudante conta que, com a oportunidade, se tornou mais autônomo e confiante nas atividades do cotidiano. Ele também atua, ocasionalmente, na arrumação da loja e no atendimento e, além de cursar o ensino médio, participa de um grupo de danças gauchescas no tempo livre.
“Eu queria muito uma vaga e depois que me inscrevi no Banco consegui a entrevista em um mês. Agora sou mais independente, tenho mais autonomia. Quando quero comprar alguma coisa pra mim, eu posso”, conta Souza.
O estudante diz que o Banco de Oportunidades impactou sua vida de forma positiva e recomenda os amigos que se inscrevam e participem das oficinas, cursos e demais atividades propostas. Influenciados por ele, alguns ingressaram no Start pensando em conseguir um emprego também. Conforme a prefeita Paula Mascarenhas, essa é a principal responsabilidade dos municípios.
“Se olharmos apenas para a redução dos índices de criminalidade do presente, nós deixaremos de fazer uma ação fundamental que é preparar o futuro. Precisamos atacar as causas da violência, ou seja, investir em prevenção, olhar para os jovens e investir na geração de empregos”, avalia Paula.
O Banco de Oportunidades capta vagas e os interessados em alguma delas podem se inscrever no Banco de Jovens Talentos, na Secretaria de Assistência Social (SAS), que registra qualquer pessoa de 14 a 24 anos.
Em tratativas para ser replicado a nível estadual, o Mão de Obra Prisional (MOP), que busca a ressocialização de presos através do trabalho, tem um objetivo simples: dar a eles uma segunda chance. A iniciativa já envolveu mais de 300 apenados nos serviços de reforma de espaços públicos, limpeza da cidade e atendimento à população.
Além de promover a qualificação profissional, o projeto ajuda na ressocialização, pois as pessoas em cumprimento de pena trabalham em contato com a comunidade. Na área da saúde foram 27 unidades reformadas, envolvendo mais de 150 trabalhadores do regime semiaberto. Atualmente, há quatro frentes de atuação: uma requalifica o novo almoxarifado e as outras trabalham nas UBSs Cohab Fragata, Py Crespo e Getúlio Vargas.
“O foco na geração de emprego também é para aquelas pessoas que estão saindo do sistema prisional; através do MOP, do Artecon P e, mais recentemente, com a edição do decreto que determina que as empresas contratadas pela Prefeitura destinem um percentual das vagas de trabalho a ex-apenados”, explica a prefeita.
O MOP também está presente na Assistência Social. As reformas do Centro Pop, dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos da Colônia Z-3 e do Pestano, da Sala dos Técnicos de Nutrição, do Espaço de Referência para a Juventude e da sede da Secretaria abriram 25 vagas de trabalho. Hoje, os apenados se dividem em manutenção e entrega de alimentos nos abrigos municipais e serviços assistenciais e no Programa de Aquisição de Alimentos.
Nos Serviços Urbanos foram quase 130 postos de trabalho nesses dois anos, em atividades de drenagem, atendimento nos Ecopontos e na Hospedaria Municipal de Grandes Animais, bem como serviços gerais. Uma novidade é que, desde a última semana, o MOP realiza também a varrição de avenidas centrais, como a Duque de Caxias, de onde retiraram mais de 400 sacos de lixo flutuante e resíduos.
Os 'Guris do MOP', como se autodenominam, já planejam o futuro. “É gratificante poder recomeçar, ter essa oportunidade. Depois quero continuar trabalhando com a Prefeitura, em algum contrato ou fazendo concurso público”, conta Igor, que é um dos responsáveis pelo atendimento no Ecoponto da Balsa.
Outra boa experiência é a de Michel que, devido ao trabalho de qualidade desenvolvido em suas atividades no MOP, acabou sendo contratado por uma construtora de Pelotas como mestre de obras, assim que terminou de cumprir sua pena.
A fim de levar essa nova perspectiva também ao regime fechado, foi inaugurada neste ano a fábrica de artefatos de concreto Artecon P, junto ao Presídio Regional. A unidade estimula o trabalho como forma de reintegração social e os materiais produzidos – tubos de concreto e blocos intertravados – são utilizados nas obras municipais.