Paula Mascarenhas abriu a cápsula do tempo diante de autoridades e imprensa, e lançou proposta de se organizar uma nova caixa a ser aberta em 2069
Por Joice Lima 14-05-2019 | 16:54:33
Diante dos olhares apreensivos e curiosos de algumas dezenas de pessoas — entre autoridades convidadas, servidores da Prefeitura de Pelotas e imprensa local —, a prefeita Paula Mascarenhas, acompanhada de conservadores/restauradores do Museu da Baronesa, abriu nesta terça-feira (14), no salão nobre do Paço Municipal, a caixa metálica encontrada há uma semana – em 7 de maio – debaixo do monumento à Yolanda Pereira, na praça Coronel Pedro Osório.
A cápsula do tempo, enterrada há 88 anos, continha bastante água da chuva, infiltrada pelas paredes de tijolos e concreto da base do monumento, mas ainda era possível visualizar pedaços de jornais de 1931, sobre a primeira Miss Universo pelotense (1930), e até ler alguns trechos.
“Estamos todos emocionados com esse feito inusitado, esse presente do passado. A caixa só confirmou essa faceta de Pelotas… Uma cidade cheia de mistérios, histórias, cultura e patrimônio. Fico muito feliz. É um privilégio ser a prefeita de Pelotas no dia em que foi descoberta essa caixa (…) Quis o destino que caísse para mim… Ela deveria ter sido aberta em 1980 (50 anos após o título de Miss Universo de Yolanda), estamos em 2019, mas nunca é tarde para revelar um segredo”, disse Paula.
A prefeita agradeceu pessoalmente o pesquisador Guilherme Pinto da Almeida e às empresas Sagres Agenciamentos Marítimos e CMPC, que patrocinaram a pesquisa de iniciativa do projeto Otroporto. O dossiê elaborado por Almeida, concluído em abril de 2018, com pesquisa e argumento, trazia indícios de que a caixa, possivelmente, ainda estivesse enterrada debaixo do monumento. “Devemos a ele a descoberta. Não fosse pelo Guilherme, e seu trabalho sério, continuaríamos na incerteza”, destacou Paula.
O pesquisador, que suspeitava da existência da cápsula há vários anos, aguardava o momento propício para a busca no local – o que ocorreu com as obras de revitalização da praça, com recurso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas. Os primeiros a confirmarem que havia “algo metálico enterrado” foram os funcionários da Marsou Engenharia Ltda., empresa vencedora da licitação, no dia 7 de maio, e logo a conservadora/restauradora do Museu da Baronesa, Fabiane Rodrigues Moraes, que entregou a caixa à prefeita Paula.
“Esse é um momento mágico. Que a abertura dessa caixa, que é uma homenagem à mulher pelotense, seja também didática, no sentido de chamar a atenção para a importância da conservação da nossa história”, apontou Almeida.
Secretário de Cultura, Giorgio Ronna explicou que o material de importância histórica será agora levado ao laboratório do curso de Conservação e Restauro da UFPel. “Um curso que é referência nacional, onde há profissionais habilitados a fazer a recuperação e conservação do conteúdo da caixa, para que ele possa ser mostrado à sociedade.” Ronna adiantou que serão dois procedimentos: restaurar a caixa, propriamente, e recuperar o máximo possível do seu conteúdo.
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No final da cerimônia, a prefeita lançou a proposta de que seja construída uma nova cápsula, com um “retrato da Pelotas de hoje”, para “mandar um recado aos pelotenses do futuro”, a ser aberta em 50 anos: 2069.
“Faremos uma consulta à comunidade sobre o que caracteriza a Pelotas de 2019, para decidir o que devemos colocar dentro da nossa caixa. Em julho, na semana do aniversário do município, vamos revelar. Será uma brincadeira, mas também um jeito de entrar no jogo da cultura, da história, e registrar as transformações que ocorrem com o passar do tempo”, ponderou Paula.
Acompanharam a cerimônia de abertura da cápsula do tempo, o vice-prefeito Idemar Barz; o presidente do Clube Caixeiral, Victor Siqueira, e a diretora do Diário Popular, Virginia Fetter — duas das entidades que, em 1931 participaram da homenagem à Yolanda Pereira; os assessores especiais Clotilde Victória, Sadi Sapper e Gustavo Azevedo; o produtor cultural, integrante do projeto Otroporto, Duda Keiber; Andréa Bachettini, professora do curso de Conservação e Restauro da Ufpel; os conservadores/restauradores do Museu da Baronesa, Fabiane Moraes e Marcelo Hansen Madail; o diretor de Manifestações Populares, Paulo Pedrozo, e João Rodrigues, ambos da Secult; o editor-chefe do Diário Popular, Jarbas Tomaschewski; funcionários da Marsou, representantes dos deputados Daniel Trzeciak e Luiz Henrique Viana (PSDB); jornalistas, fotógrafos e radialistas de veículos da imprensa local.
A cápsula havia sido enterrada em 1931, sob o monumento que ficava no centro do então “Roseiral Yolanda Pereira”, para homenageá-la pelo título de Miss Universo (1930), que colocou o município em evidência mundial, além de outros títulos de beleza. A ideia original é que fosse aberta nos 50 anos do título, em 1980, o que nunca chegou a acontecer. “Nesse ano (1980), Clayton Rocha realizou uma festa para mais de 800 convidados em homenagem à Yolanda, no Tourist Hotel. A própria Yolanda e um grupo de pessoas chegou a ir até o roseiral, mas a caixa nuca foi desenterrada”, conta o pesquisador.
Embora no momento seja inviável mexer no conteúdo da caixa — que poderia se desmanchar, já que está mergulhado em água, e terá que ser cuidadosamente manuseado por especialistas —, trecho extraído da pesquisa de Almeida, dá uma noção precisa do que deveria ser o seu conteúdo:
“Lida a ata, que recebeu inúmeras assinaturas, foi ela encerrada numa artística caixinha de ferro, esmaltada de azul e ouro, presa à chave uma fita com as cores gaúchas - oferta da ‘Fundição e Mecânica’, de Santos, Sica & Cia., urna em que também ficaram depositados: um excelente retrato do Studium Inghes, da Miss, com autógrafos, clichês das moedas de prata que o Ministro da Fazenda, Dr. José Maria Whitaker, mandou cunhar, com a efígie de Miss Universo 1930, representando a Segunda República; números do[s periódicos] ‘O Libertador’, Diário Popular’, ‘Correio Mercantil’, ‘Opinião Pública’, ‘A Luz’, Diário de Notícias’, ‘A Noite’, que se ocupam de Yolanda Pereira, em sua campanha de Miss, e um exemplar do ‘Almanaque de Pelotas’, que traz um magnífico resumo dessa campanha.”