Processo de redesignação de gênero é um dos temas abordados nas reuniões realizadas quinzenalmente
08-03-2019 | 15:37:50
O Programa de Saúde LGBT da Prefeitura ganhou o reforço de uma fonoaudióloga. A atuação da profissional soma-se aos serviços da equipe formada por psicólogos e assistentes sociais, além de médicos endocrinologistas oriundos de parceria entre o Executivo e o Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HU/UFPel), filiado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Juntos, esses profissionais ajudam no processo de transição de gênero daqueles que procuram a unidade em busca de ajuda.
Baseado no Programa de Identidade de Gênero (Protig) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), a iniciativa pelotense nasceu da vontade de facilitar o acesso ao processo transexualizador no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para isso, são realizadas reuniões quinzenais em que os participantes recebem informações sobre temas, como reposição hormonal, um assunto complexo e realizado sem orientação médica por muitos, apesar dos efeitos colaterais.
“Aqui eles são informados de todos os passos necessários para fazer a redesignação e auxiliados nesse processo. Nosso objetivo é acolher cada um em sua especificidade e ajudá-lo a encontrar ou reforçar sua identidade”, afirma a coordenadora, a assistente social Bianca Medeiros da Silveira.
Segundo ela, o programa também atende vítimas de homofobia. “Muitos sofreram violências horríveis e precisam de acompanhamento psicológico. Outros não tem apoio da família e temem o afastamento”, garante a assistente social.
Conforme a psicóloga Angelina Pontes da Silva, colaboradora do programa, alguns usuários chegam com muitas dúvidas, no entanto, a maioria já sabe o que deseja. No entanto, o processo é longo – leva mais de dois anos pelo SUS – e exige muitas etapas até estar concluído. Os tratamentos envolvem reposição hormonal, terapia e trabalho de voz com a fonoaudióloga.
Mesmo assim, depois de tudo, eles demonstram satisfação por mente e corpo estarem finalmente de acordo. “Por ser uma cirurgia irreversível, precisa ser muito bem pensada e decidida. Nesses casos, o acompanhamento de uma equipe é fundamental, o que antes não ocorria em Pelotas”.
Hoje, metade dos pacientes que integram o programa municipal têm suporte familiar, enquanto a outra parte luta contra o preconceito dentro de casa. No caso de Allan Souza, de 34 anos, o processo de descobrimento e aceitação da própria sexualidade foi difícil, passando pela pressão de ter nascido em uma família tradicional e em uma cidade pequena.
Natural de Caçapava do Sul, ele – que nasceu ela – precisou vir para Pelotas, aonde conseguiu libertar-se das correntes que o amarravam ao passado. Nesse processo, a participação no programa da Prefeitura ajudou bastante.
A expectativa agora é pela mudança oficial do nome nos documentos de identidade. “O apoio de uma amiga muito querida também contribuiu para essa descoberta. Foi ela que me ajudou a entender que eu era um homem em um corpo feminino”, conta.
Ele lembra ainda o apoio da mãe, que escolheu a nova identidade: “eu perguntei: ‘mãe, se eu fosse homem, que nome eu teria?’ Rápido ela disse ‘Allan’, e largou ‘tu vai trocar de nome, né?’. Ali foi meu renascimento”.
Souza explica que em seguida passou a participar do programa Saúde LGBT, após ser encaminhado ao SUS. A ideia era entrar no processo de mudança de gênero do Protig, na Capital, mas ele foi abordado pela assistente social Bianca e passou a fazer parte do projeto pelotense, conquistando uma nova vida após iniciar o tratamento hormonal.
“São só rótulos, mas a sociedade pede isso, pede que tu explique tudo da tua vida e isso vem junto no processo de mudança. Hoje minha mente está mais confortável com meu corpo, mas não foi fácil”, revela Souza, que se considera um homem heterossexual e está no programa desde abril de 2018.
Atualmente, participam da iniciativa 15 homens e mulheres com idades que variam dos 18 aos 34 anos. A maioria deseja fazer a redesignação de gênero, no entanto, isso não é regra. Quem quiser fazer parte do projeto, pode ir até a rua Lobo da Costa, 1.764, sala 201, das 7h às 13h ou ligar para 3284-7767. O contato também pode ser feito pelo e-mail saudelgbtpelotas@gmail.com.
Criado em 2016, o programa pelotense de Saúde LGBT já atendeu cerca de 30 pessoas. Atualmente, 15 participam das reuniões quinzenais e muitos estão em processo de redesignação. A palavra transgênero refere-se ao indivíduo que se identifica com um gênero diferente daquele que corresponde ao seu sexo. No Brasil, estima-se que exista um caso para cada 30 mil homens e um caso para cada 100 mil mulheres.