Exames revelaram detalhes de parte da estrutura externa da urna, incluindo o sistema de fechadura, mas Interior permanece um mistério
10-05-2019 | 17:38:43
Mais um capítulo envolvendo a história da cápsula do tempo enterrada há 88 anos, embaixo do monumento a Yolanda Pereira, na praça Coronel Pedro Osório, foi escrito nesta sexta-feira (10). A equipe que cuida do processo de abertura e restauração da urna levou o objeto até o Hospital Veterinário da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para realizar um raio-x. O objetivo era vislumbrar o que havia no interior do recipiente selado pela ação do tempo.
Até o momento, os restauradores estabilizaram e limparam a caixa de pouco mais de 10 quilos, mas o ferro oxidou e praticamente soldou a tampa e a fechadura da urna, lacrando o interior. A curiosidade sobre o que o exame poderia mostrar contagiou até mesmo as técnicas de radiologia do Hospital.
“Foge da nossa rotina. É legal saber que fizemos parte de um momento histórico como este, mesmo que não dê para enxergar muito, devido ao tipo de material”, disse a técnica Luciele Turow.
Como a peça é de ferro, material bastante radiopaco – quando o raio-x tem mais dificuldade de atravessar -, foi difícil perceber o que poderia haver no interior; porém, é possível ver claramente a estrutura externa da urna e da fechadura. “Acreditamos que os documentos não tenham suportado a ação do tempo. Há muita água dentro da cápsula. Mesmo assim, queremos ter certeza e descobrir se algo pode ser salvo”, afirmou o restaurador do Museu da Baronesa, Marcelo Madail.
Toda a operação foi acompanhada pela restauradora Fabiane Moraes e a professora do curso de Conservação e Restauração da UFPel, Daniele Fonseca, que não esconderam a curiosidade. “O raio-x mostrou algumas peculiaridades, como as camadas que formam a urna e imagens que dão a ideia da existência de sedimento no interior, mas só abrindo para saber o que existe de fato”, explicou Daniela, agradecendo a direção do Hospital Veterinário pela disponibilização do equipamento.
Por enquanto, os segredos da cápsula do tempo da miss gaúcha continuam guardados. Ainda não há uma data definida para a abertura, mas os pesquisadores não descartam o uso de técnicas mais invasivas para isso. “Estamos tentando preservar a integridade do material, mas somente com o bisturi já está claro que não vamos conseguir abrir. A oxidação está estabelecida e talvez tenhamos que usar um processo mais enérgico para descobrir se algo resistiu ao tempo, e finalmente desvendar o que o passado guardou para o futuro”, ressalta Madail.
Prefeitura encontra cápsula do tempo enterrada há 88 anos
Cápsula do tempo passa por limpeza e estabilização
A possibilidade da existência da cápsula foi levantada pelo pesquisador Guilherme Pinto da Almeida, do projeto Otroporto, e publicada no Almanaque do Bicentenário de Pelotas, em 2012. Depois de saber de sua existência, Almeida pesquisou periódicos dos anos de 1979, 1980 e 1981, não encontrando nenhum registro de que a urna tivesse sido desenterrada.
Aproveitando que a praça passa por obras de requalificação, a Prefeitura decidiu averiguar a possibilidade levantada por Almeida e teve acesso à cápsula pela lateral da base do monumento.
A cápsula do tempo, em homenagem a miss universo Yolanda Pereira, foi guardada para a posterioridade no dia 16 de outubro de 1931. Conforme a ata do evento, encontrada em arquivos da Bibliotheca Pública de Pelotas, a solenidade foi acompanhada pela própria miss e autoridades da época. A urna foi preservada em uma caixa de ferro, esmaltada em azul e ouro, feita pela ‘Fundição e Mecânica, de Santos, Sica & Cia’.
Em seu interior foram colocados uma fotografia autografada por Yolanda, feita pelo 'Studium Inghes'; clichês das moedas de prata que o então ministro da Fazenda, José Maria Whitaker, mandou cunhar com a efígie de Miss Universo 1930; além de periódicos e um exemplar do Almanaque de Pelotas publicado naquele ano.