Pesquisa inédita no país – parceria da Prefeitura com a UFPel – busca avaliar o impacto dos programas Conte Comigo e ACT para prevenir a violência
14-01-2020 | 17:50:02
Professor do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, da Universidade Federal de Pelotas, o escocês Joseph Murray, apresentou à prefeita Paula Mascarenhas, nesta terça-feira (14), os primeiros resultados referentes ao Estudo Piá – Primeira Infância Acolhida, que envolve 369 famílias da Coorte de Nascimentos de 2015 em Pelotas. O diagnóstico da aplicação do projeto será analisado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, entre os meses de maio e julho.
Uma parceria entre a Prefeitura e a UFPel é responsável pela aplicação e análise de duas metodologias socioemocionais na cidade, desde 2018: o Conte Comigo e o ACT – Criando Crianças em Ambientes Seguros, que integram o Pacto Pelotas pela Paz.
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Ambas iniciativas apostam na consolidação dos vínculos familiares, alicerçados no diálogo e no afeto, para prevenir a violência e repercutir em relações mais pacíficas, o que, consequentemente, também impacta em uma sociedade com menos criminalidade.
O Estudo Piá é o maior a nível mundial em avaliação de intervenções nesta área e já chamou a atenção de organizações internacionais, como a Parceria Global pelo Fim da Violência contra Crianças, que enviou representante a Pelotas, na última semana, para conhecê-lo.
A fase atual do projeto inclui finalizar o banco de dados e o plano para análises – que deve se estender até abril –, para enviá-lo à universidade britânica. Entre as fases superadas do Estudo, destacadas por Murray, estão trazer as metodologias concebidas fora do Brasil para Pelotas; capacitar profissionais para aplicá-las; realizar os programas; coletar dados antes e depois; e analisar sua implementação.
A projeção é de que um artigo científico com os resultados do Estudo Piá até agora seja produzido em agosto e forneça evidências científicas para embasar e consolidar iniciativas voltadas à prevenção da violência, como o ACT, implantado de forma pioneira no mundo como política pública, em Pelotas.
“Tomara que venham mais resultados positivos para fortalecer este trabalho e comprovar que vale a pena apostarmos nele. Não tenho a menor dúvida que os programas tiveram um impacto positivo, sobretudo, para os facilitadores envolvidos. Agora, vamos ver o que nos diz a ciência”, salientou Paula”.
A boa expectativa da prefeita em relação aos resultados é motivada pelos diversos relatos positivos de mães que integram a pesquisa e apontam a melhor comunicação com os filhos, a partir da participação nas metodologias. Ainda neste sentido, elas elencam a aproximação com as crianças e a forma delas entenderem os sentimentos alheios como pontos positivos.
O pesquisador escocês ressaltou os diferenciais da pesquisa feita pelo Centro de Epidemiologia que, além de considerar a percepção das mães envolvidas, também prevê um trabalho de codificação realizado por psicólogos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) e medição do cortisol – hormônio diretamente envolvido na resposta ao estresse, analisado a partir de fios de cabelo.
Ele explica que outras três pesquisas já estudaram os programas, mas nenhum como o Piá, que acompanhará as famílias associadas à Coorte 2015, ou seja, para toda a vida. Entre os resultados divulgados por Murray à prefeita, os índices relacionados à percepção das mães quanto à implementação feita pelos facilitadores, à adesão aos programas, e avaliações das participantes quanto à qualidade, satisfação, organização e acessibilidade das metodologias.
O coordenador do Pacto, Samuel Ongaratto, e o assessor especial Sadi Sapper, também acompanharam a apresentação.
Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a metodologia diferencia-se da contação de histórias habitual por tornar a criança peça fundamental na construção da narrativa, trabalhando, desta forma, sua imaginação, criatividade e desenvolvimento cognitivo. O livro torna-se, assim, ferramenta essencial para o estabelecimento de diálogo e conexão entre pais e filhos. Sem textos, a publicação traz imagens coloridas e atrativas, que despertam a curiosidade das crianças e estimulam a interação. Em 2019, foi incorporado ao serviço público em unidades de saúde, educação e assistência social, alcançando 99 alunos e 36 famílias.
Programa psicosocioeducativo de prevenção à violência, que aborda dinâmicas para fortalecer os vínculos familiares, ensinar sobre desenvolvimento infantil e, especialmente, estimular o ‘educar’ distante de qualquer violência, valorizando os bons exemplos e impactando na consolidação de relações mais saudáveis. Tem abordagem universal, sendo destinado a qualquer adulto que esteja criando crianças de zero a 10 anos. Em 2019, beneficiou 210 famílias em diferentes bairros da cidade.