Estevam e Daiane formalizaram sua união na última sexta-feira (20), em uma pequena celebração organizada por voluntários e reeducandos nas dependências da instituição. A Apac faz parte do Pacto Pelotas pela Paz pelo eixo de Prevenção Social
Por Marina Amaral 24-08-2021 | 11:14:29
De acordo com o método apaqueano, que é propagado dentro da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), a família é um dos 12 elementos-base, que auxilia os reeducandos na recuperação e, assim, na ressocialização. Partindo desse princípio, na última sexta-feira (23), a Apac de Pelotas, que integra o eixo de Prevenção Social do Pacto Pelotas pela Paz, política pública da Prefeitura, realizou o primeiro casamento dentro da instituição, entre o recuperando Estevam Birgimann e Daiane Castro.
A ação inédita mostra o compromisso da Associação com a promoção da humanização no sistema prisional. De acordo com o presidente da instituição, Leandro Thurow, promover a união familiar, ou, na maioria das vezes, a reconciliação entre parentes, é um dos objetivos da Apac.
“Tenho percebido que os recuperandos têm ‘acordado’, durante o tempo de cumprimento de pena, para aspectos antes adormecidos, ou impossibilitados pela rotina das obrigações da vida diária. Assim, muitos voltaram a ter interesse pelos estudos por exemplo. Acredito que outros casamentos serão estimulados a partir desse”, afirmou Thurow.
Durante um atendimento do grupo de assistência jurídica, realizado na Apac, o recuperando Estevam Ricardo Jaekel Birgimann de 53 anos manifestou sua pretensão de oficializar sua relação conjugal com Daiane de Oliveira Castro, que tem 40 anos. Prontamente, os voluntários da instituição atenderam ao pedido e se movimentaram para providenciar os trâmites legais.
O que, originalmente, seria apenas um casamento civil, por conta das restrições causadas pela pandemia da Covid-19, tornou-se uma comemoração, mesmo que um pouco limitada, graças às flexibilizações dos protocolos e medidas de combate ao vírus. “Os voluntários entenderam que o casal merecia uma pequena celebração. Assim, passaram a trabalhar na organização do evento”, explicou o presidente da Apac.
Por volta das 16h15min de sexta-feira, o casal oficializou a união no civil. Às 17h, os demais reeducandos, junto aos profissionais que lá atuam, aguardavam Estevam e Daiane nas dependências da instituição para a cerimônia religiosa, que foi seguida por apresentação do grupo musical da Apac e de uma janta.
Juntos há aproximadamente 20 anos, Estevam e Daiane sempre cultivaram o anseio de tornar oficial sua união. No entanto, devido aos gastos para manter a casa e a escola de sua filha, fruto do amor dos dois e que estava presente no casamento, o sonho precisou ficar para depois. O adiamento foi ainda maior depois de Daiane ter complicações de saúde e de um acontecimento ruim marcar a família.
Na Apac, Estevam vislumbrou a chance de realizar o casamento que tanto sonhou com sua amada e agarrou-se na oportunidade. Ele agradeceu o apoio de todos que contribuíram para a realização do evento, desde os voluntários da instituição até seus colegas, além da mãe Ilgar, que acompanhou a festividade sem conseguir conter as lágrimas.
“Estamos muito felizes. É um momento lindo, que sempre desejamos. Algo ruim precisou acontecer com a nossa família para que tantas outras coisas boas pudessem surgir, como esse dia do nosso casamento”, afirmou o noivo.
Pelotas foi a primeira cidade do interior do Rio Grande do Sul a adotar o modelo de Apac. Atualmente, a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados faz parte do Pacto Pelotas pela Paz, política pública instituída pela Prefeitura. Dentro do programa, a instituição está inserida no eixo de Prevenção Social por meio da estratégia Segunda Chance.