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Apac de Pelotas recebe doação de um piano

O instrumento foi doado por um voluntário e restaurado com a participação dos recuperandos da instituição, que compõe o Pacto Pelotas pela Paz, na nova oficina de pintura em laca

Por Marina Amaral 13-10-2021 | 14:06:16

O recuperando da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Pelotas, J. N., de 28 anos, nunca teve contato com um piano pessoalmente, tendo visto o instrumento apenas por foto ou pela televisão. Mas, na última semana de setembro, quando a instituição, que é um dos braços do Pacto Pelotas pela Paz, política pública do Município, recebeu a doação de um piano restaurado e personalizado feita por um voluntário, que é proprietário da Casa do Piano de Brasília (DF), J. N. e seus 19 colegas reeducandos tiveram a oportunidade de aprender novas técnicas. 

A pintura em laca, tipo de tratamento que o móvel do piano recebe, foi alvo de uma oficina ministrada pelo restaurador e afinador de pianos Rogério Resende, que é voluntário desde 2017. Pelotense, ele mora em Brasília desde os anos 1970, onde administra a Casa do Piano, e decidiu doar o instrumento à instituição parcialmente pronto, restando o acabamento final a ser feito. Essa tarefa foi destinada aos recuperandos e foi executada no novo espaço da Apac, a sala de pintura industrial. 

Foto: Michel Corvello

O piano amarelo, fabricado em 1971, chegou no dia 19 de setembro ao local. No dia 20, já teve início a oficina de pintura em laca, que se estendeu até o dia 29. Das 14h até às 18h, os moradores da Associação tiveram aulas com Resende e dois auxiliares. As atividades contaram com bastante interação, anotações e práticas. Todos os recuperandos participam, conforme explica o presidente da Apac de Pelotas, Leandro Thurow, pois a técnica da restauração é laborterápica, permitindo a reflexão e a analogia com a sua própria vida, passível de profundas mudanças a partir da reconstrução cuidadosa. 

A doação do piano foi motivada pelo fato de a oficina de música ter sido a primeira implementada na instituição e, atualmente, incluída na agenda semanal de atividades. Dessa forma, os ressocializandos aprendem a tocar diversos instrumentos e, agora, também conhecem as práticas que envolvem a pintura dos materiais. Já na primeira aula, no dia 20, foi possível captar objetivos palpáveis vindos dos recuperandos. 

“Essa instrução, da pintura em laca, é o primeiro passo que pode levar a uma profissão digna. Optamos por doar esse piano à instituição, por tudo que a Apac estimula, de promoção do ser humano e ressocialização do indivíduo”, afirmou Resende. 

A primeira apresentação do grupo musical da Apac com o piano amarelo aconteceu durante a abertura da 95ª Expofeira de Pelotas, na última segunda-feira (4), na Associação Rural. 

Apresentação do grupo musical da Apac na abertura da 95ª Expofeira - Foto: Gustavo Vara

Aprendendo novas técnicas e conhecendo diferentes culturas

A novidade apresentada nos últimos dias para o J. N. foi considerada uma experiência positiva e que rendeu muito aprendizado. A oficina de pintura em laca despertou no recuperando a vontade de aprender a tocar o instrumento e desenvolver sua técnica de pintura. Acostumado a lidar apenas com animais, quando trabalhava no campo, ele consegue enxergar suas oportunidades se expandindo e novas possibilidades de carreiras surgindo. 

“A oficina está ajudando meu futuro, já que estou aprendendo uma nova profissão e tendo conhecimento amplo de tintas e madeiras. Também posso aprender a tocar piano e ir evoluindo. Na segunda-feira (20 de setembro) foi meu primeiro trabalho sozinho pintando a laca e já foi 100% aprovado pela equipe. Cada dia que passa a gente aprende uma coisa nova”, expôs o recuperando.

Foto: Michel Corvello

O relato de J. N. mostra que o objetivo da implantação dessas atividades na Apac está sendo atingido: a de levar para dentro da casa prisional trabalhos não convencionais e, ao mesmo tempo, promover a aproximação intercultural. 

“A doação do piano demonstra, mais uma vez, o envolvimento da sociedade, se importando em construir uma nova concepção do sistema prisional. Dessa forma, mãos que antes serviram para a criminalidade, hoje aprendem a tocar instrumentos musicais e descobrem uma profissão digna, cujo conjunto traz conhecimento e entusiasmo para uma vida diferente”, defendeu Leandro Thurow. 

Mais um espaço de aprendizado

A sala de pintura, inaugurada com a chegada do piano amarelo, surgiu a partir do desejo dos recuperandos da Associação possuírem um ambiente destinado aos estudos profissionais. O espaço foi construído sob orientação técnica da Casa do Piano, empresa de Rogério Resende, para que quaisquer tipos de pinturas possam ser realizadas, desde móveis a carros. Para Thurow, o local representa oportunidade: ao aprender técnicas pouco disponíveis no mercado, os aprendizes terão em seus currículos a prática de alto padrão e se destacarão.

Foto: Michel Corvello

Um grupo definido pela determinação

No dia 25 de setembro, sábado, poucos dias após a chegada do piano, a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados de Pelotas alcançou outra conquista ao receber seu primeiro veículo. Apreendida pela Polícia Civil, a camionete modelo S10 foi doada por causa do seu motor fundido. Mesmo assim, os recuperandos trabalharam na revitalização do automóvel, levantando recursos para o conserto do motor a diesel. O Pacto Pelotas pela Paz está presente na identificação visual da camionete, para lembrar os frutos que a política pública do Município colhe cada vez mais.

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