Trabalho realizado por um apenado do projeto Mão de Obra Prisional (MOP/SUS), ligado ao Pacto Pelotas pela Paz, em conjunto com um cirurgião-dentista, garantiu a entrega de 100 próteses dentárias a usuários do SUS
Por Marina Amaral 24-09-2021 | 10:00:17
Trazer sorrisos de volta tem sido a tarefa de um apenado vinculado ao Programa Mão de Obra Prisional (MOP/SUS), que integra o Pacto Pelotas pela Paz, política pública da Prefeitura. Nesta semana, após um período sem a produção de próteses dentárias, a Secretaria Municipal de Saúde fez a entrega da prótese número 100, produzida pelo ressocializando em conjunto com um cirurgião-dentista, no Centro de Especialidades. O trabalho da dupla de profissionais vai suprir a demanda reprimida, atendendo pessoas que estão na lista de espera pelo serviço no Município, além de continuar contribuindo para a ressocialização no sistema penal.
Seis pessoas voltaram a sorrir nesta semana. A entrega das próteses é rápida, já que, após colocada, é necessário apenas adaptá-la na boca do paciente e liberá-lo. No entanto, o trabalho que antecede à entrega é artesanal e minucioso, e envolve etapas clínicas, realizadas pelo cirurgião-dentista, e laboratoriais, feitas pelo especialista na confecção, conforme explica a dentista e chefe do setor de Saúde Bucal da SMS, Letycia Gonçalves. A execução precisa ser com qualidade, pois reflete na adaptação da prótese que será utilizada.
O serviço estava suspenso há algum tempo, após o contrato com o último laboratório responsável pela fabricação ser rescindido. Letycia lembra que, em 2021, após ter conhecimento que existia um apenado ligado ao MOP/SUS com formação como protético, com conhecimento da parte laboratorial para confecção de próteses dentárias, a Secretaria decidiu chamá-lo e ele passou a trabalhar no Centro de Especialidades, por meio do projeto.
O apenado produz próteses totais, destinadas a pessoas que perderam todos os dentes, seja da arcada superior, seja da inferior, seja de ambas. Devido ao tempo que permaneceu no regime fechado (agora ele cumpre pena no semiaberto), no Presídio Regional de Pelotas, ele passou um período sem exercer sua formação e, agora, tem a oportunidade de retornar ao contato com o trabalho e, ainda, beneficiar usuários.
“Esse trabalho é duplamente gratificante, porque atende à ansiedade dos pacientes que necessitam das próteses dentárias e, ao mesmo tempo, reintegra as pessoas à sociedade”, salientou a secretária de Saúde, Roberta Paganini.
A entrega da 100ª prótese representa a dedicação do ressocializando. A confecção dos materiais exige esse empenho, já que envolve duas etapas: uma com o dentista, de análise do paciente, e, outra, com o protético, que realiza todo o trabalho manual.
“Ele está muito feliz pelo que está fazendo e ficou muito empolgado por chegar na prótese de número 100. Esse trabalho dignifica a sua existência, pois, quando passou para o regime semiaberto e deixou o Presídio, precisava retomar o seu ofício de formação, e está conseguindo fazer isso ajudando na reabilitação bucal dos usuários do SUS”, afirmou a chefe da Saúde Bucal da SMS.
Isso mostra que o serviço oferecido é uma forte vertente do Pacto Pelotas pela Paz, uma vez que promove e alia a ressocialização no sistema penal à prestação de auxílio à população que mais precisa de ajuda, formada por pessoas que se encontram na fila para voltar a sorrir.
Inicialmente, o MOP/SUS utilizava mão de obra de presos para reformar prédios da área da Saúde de Pelotas, como recorda o idealizador do programa, Leandro Thurow. A iniciativa passou de política pública municipal para nacional, em julho de 2021, quando foi publicada a Portaria 1.698/2021, que instituiu a experiência pelotense de trabalho e renda para apenados pelo país inteiro.
Agora, é possível visualizar a ampliação do projeto para vários âmbitos, e o serviço de próteses confeccionadas pelo ressocializando - que passou pela Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de Pelotas - é um exemplo disso, o que configura inovação e inclusão.
“Pelotas, através do Pacto Pelotas Pela Paz, tem se permitido ampliar o MOP e encontrar soluções inusitadas, casando oportunidades de trabalho aos presos com as necessidades dos munícipes. A população ganha duas vezes - o serviço prestado e a redução da reincidência criminal, refletindo diretamente numa sociedade mais pacífica”, defendeu Thurow.